quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Como conseguir executar as metas de início de ano (garantido)




Basicamente penso que trazemos dentro de nós uma tendência de não desistir nunca. Embora, muitas vezes, tenhamos vontade de sucumbir às dificuldades, como se diz: jogar a toalha. 

Mas, isso é momentâneo. Pois, logo vem novamente aquele fôlego e pronto, tudo tem início novamente. E parece que isto toma uma força poderosa no final do ano quando boa parte das pessoas está nessa mesma vibração, pensando em mudanças. 

É nesse momento que pegamos um caderno e, uma caneta e começamos a famosa lista de resoluções de final de ano. Muitas listas parecem não ter fim... é a dieta (tantas vezes planejada, mas ano que vem eu consigo!), a atividade física (sempre adiada, mas não esse ano!), ter hábitos mais saudáveis, conhecer pessoas, viajar o mundo, trabalhar com o que se gosta, ter sucesso financeiro, casar, ter filhos, e por aí vai... 

O começo do ano parece envolto num tipo de magia que poderíamos chamar de “mundo encantado onde tudo é possível”. Mas, espere! Não estou querendo jogar um balde de água fria na sua cabeça, não! Ou sendo irônica, ou ainda pessimista. 

O que eu quero é te propor uma reflexão. A afirmação de que vivemos num mundo encantado onde tudo é possível, soa verdadeira para você? Sim ou não? Lembre-se não existe resposta certa. Apenas a sua resposta... 

Se a sua resposta foi sim, segura ela um pouco que a gente já volta a falar sobre. Se foi não, então vou te propor um outro mundo para você habitar. Afinal, todos temos nosso lugar! 

Que tal esse: “mundo onde tudo é possível”? Ficou melhor sem magia? Talvez um mundo onde tudo é possível por conta de suas ações, quem sabe? Sim? Não? Ok... se você não é desse lugar, te apresento mais uma possibilidade. 

E um mundo onde quase tudo é possível? Parece mais factível para você? Na verdade, isso que mais parece uma brincadeira com as palavras pode nos fazer perceber onde nos colocamos no mundo. E a partir daí, sabermos onde queremos chegar.  

Pois, a verdade é que não adianta termos um mapa detalhado do território se não sabemos onde estamos. Em outras palavras, de que adianta ter minha bela lista de resoluções de final de ano se eu não sei quais são meus princípios? 

E o que é um princípio? É o nosso ponto de partida, onde estamos. Um princípio é nossa maneira de ver o mundo e é ele que vai determinar nossas ações. Pois, são os princípios que esclarecem por que fazemos o que fazemos. 

E é muito importante observar que muitas vezes desejamos algo completamente diferente do que temos. E continuamos desejando, desejando, desejando e desejando... Mas, e o que fazemos? Desejamos, oras! Que princípio atua nessa situação? Sonhar! Ficar no campo das ideias, imaginando uma vida diferente. Porém, sem ir além e dar um próximo passo na direção de concretizar os sonhos.  
Mas, se observamos o mundo através de uma lente não de um sonhador, mas de alguém que busca reconhecimento, por exemplo, esse alguém vai trabalhar com grupos, talvez. Quem sabe ser professor ou professora, ator ou atriz, palestrante... 

Se for alguém que tem como princípio a liberdade, essa pessoa pode se satisfazer com trabalhos informais, constantes viagens, morar num lugar com características mais minimalistas. 

Já se a pessoa valoriza segurança, possivelmente morará num condomínio fechado e terá um trabalho formal. 

Enfim, é importante sabermos o que nos guia para sabermos que caminhos tomarmos. E é a partir daí que devemos pegar o mapa do território, ou seja, as resoluções com nossas metas. 

É claro que podemos sonhar e devemos. Pois, são os sonhos que nos fazem querer caminhar em direção ao horizonte. Mas, devemos nos lembrar de caminhar. Somente o que pode nos ajudar nessa caminhada é definir o percurso. E um jeito prático de fazer isso é responder as seguintes perguntas se imaginando num futuro que pode ser daqui a 10, 20, 30 anos ou mais: 

Quem desejo ser? Como é minha casa ideal? Como é minha família? Como são meus relacionamentos? Quais realizações me orgulham? Quais os projetos que completei? Quais os grandes desafios que cumpri na vida? Como quero que meu corpo seja? Como está minha saúde financeira? Como eu contribuí para o mundo? Que habilidades desejo adquirir? 

E ainda: o que eu faria daqui para a frente se soubesse que é impossível fracassar? 

E mais importante ainda: como posso alcançar esses destinos e aproveitar a jornada até eles ao mesmo tempo em que beneficio as pessoas ao meu redor? 

Responder essas perguntas te mostrará o roteiro que você tem que seguir, facilitando a identificação das ações que terão que ser tomadas. 

Mas, não para por aí não. Feito isso, as ações que terão que ser tomadas precisam ser detalhadas e para isso faça o seguinte: você deve pegar o roteiro de sua vida e dividir em áreas de responsabilidade. 

Em cada área de responsabilidade você vai detalhar as ações que devem ser tomadas. Aqui vão alguns exemplos de áreas, mas as defina de acordo com o seu estilo de vida: 

Família – trabalho – educação – saúde – casa – cultura – hobbies – dinheiro – filhos – espiritualidade – faculdade – esposa/marido – lazer – social... 

Agora que você definiu as áreas de responsabilidades, você terá que traçar as metas em cada uma delas. 

Especialistas em produtividade pessoal definiram que as metas devem ser do tipo Smart, palavra da língua inglesa que significa “esperto/a”, mas também é um acrônimo para Específicas (Specifics), Mensuráveis (Measurable), Realizáveis (Achievable), Relevantes (Relevants) e com Prazo Definido (Timed). 

Em vez de sonhar que quer “perder peso” você deve definir uma meta de que vai perder, por exemplo, 10 quilos de gordura, mantendo o percentual de massa magra, dentro de no máximo 12 meses a partir de 10 de janeiro, para melhorar sua saúde e sentir-se mais atraente. 

Observe que uma meta que cumpre os cinco critérios do acrônimo Smart são muito mais factíveis de serem cumpridas do que um simples e amplo sonho, uma visão de futuro. 

Vamos analisar melhor a meta acima: 

Específica e Mensurável – Perder 10 quilos de gordura, mantendo o percentual de massa magra. 

Realizável e com Prazo Definido – O prazo é de 12 meses a partir de 10 de janeiro. Perder 10 quilos de gordura em 1 ano é algo bastante realista (menos de 1 quilo por mês) e, por conseguinte, realizável. 

Relevante – A melhoria da saúde e da autoestima é algo relevante para nossa vida. 

O essencial para quem quer realmente cumprir uma meta Smart é registrá-la por escrito, sempre verificando se os cinco critérios das metas Smart estão sendo cumpridos. 

Tenha sempre claro o porquê de você estar correndo atrás daquela meta. Em outras palavras, veja se ela está alinhada com os princípios que você definiu anteriormente. 

E, ainda, segundo o coach norte-americano Brad Branson, há uma maneira que facilita e muito realizar todas as metas de forma prática. A esta maneira ele dá o nome de ciclos de imersão e manutenção. 

A ideia por trás dos ciclos de imersão e manutenção é simples: em vez de tentar avançar com todos os seus projetos e progredir em todas as áreas da sua vida ao mesmo tempo, escolha alguns deles e mergulhe fundo! 

Mas, não se esqueça de todo o restante: apenas coloque-os no “modo manutenção”. 

O objetivo é definir períodos (ciclos) de trabalho intenso e alta produtividade (imersão) para alcançar determinado resultado em algumas áreas, enquanto se faz o mínimo necessário (e, por isso, usam-se menos recursos) para manter suas habilidades ou evitar grandes perdas em outras áreas. 

Após o término do período definido para o ciclo você poderá então mudar o seu direcionamento, passando a colocar o seu foco (iniciar um novo ciclo de imersão) naqueles projetos e áreas que estavam no “modo manutenção” e colocando em “modo manutenção” os projetos e áreas nos quais você estava imerso antes. 

E, então, vamos fazer? Eu já iniciei esse projeto e garanto que se você fizer o passo a passo vai começar a sentir a diferença na sua vida, como eu estou sentindo na minha.  Fique à vontade para compartilhar com a gente suas dúvidas, sugestões, conquistas... 

Amanda e Wladimir

domingo, 1 de novembro de 2015

A grandeza

Grande é apenas aquele que se sente igual aos outros, pois a maior grandeza que possuímos é aquilo que compartilhamos com todos os seres humanos. Quem sente essa grandeza dentro de si e a reconhece se sabe grande e, ao mesmo tempo, conectado a todos os outros seres humanos. Quando alguém reconhece tal grandeza dentro de si, também a reconhece em todos os outros seres humanos e sabe e sente ser igual a eles.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

A solidão


Sem relacionamento e sem amor recebido e dadivoso definhamos e perecemos. Crescemos através de nossos relacionamentos e desenvolvemo-nos através deles, tanto no recebimento quanto na doação. Mas, curiosamente, quanto mais pessoas nossa doação tiver alcançado e quanto mais pessoas nos renderem o reconhecimento e o agradecimento devido _ mesmo que seja apenas por algo que dissemos, fizemos, vivenciamos, sofremos e alcançamos e que possa tê-los ajudado e enriquecido, conduzido, ter-lhes aberto novas opções e servido para a completude _ tanto mais devemos nos retrair deles e tanto mais solitários seremos e devemos ser.

Ao contrário da solidão da criança que a faz sofrer e até morrer, essa solidão é repleta. Ela não separa, apenas define o distanciamento entre nós e os outros, sendo a única coisa que torna a plenitude suportável, evitando que ela se esgote. Então, o olhar se desvia dos indivíduos, dirigindo-se para algo que, por trás deles, os conecta e os une. Só assim é que se renova aquilo que sustenta, aprofunda e desenvolve tanto o serviço aos indivíduos quanto o dar e receber entre nós e os outros.

Mas, também entre e nós e aquilo que atua por trás de tudo, somente o distanciamento e a devoção possibilitam a recepção, a compreensão, a ação no momento certo e a experiência incomum de que o vazio e a plenitude se condicionam mutuamente e de que o amor final está tão próximo quanto distante, tão unido quanto solitário. 

Extraído do livro "Liberados somos concluídos" (Bert Hellinger)

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O que torna as crianças felizes?


As crianças ficam felizes quando seus pais _ ambos os pais _  estão felizes com ela. E quando é que ambos os  pais ficam felizes com a criança? É quando cada um respeita e ama seu parceiro (sua parceira) e se alegra com ele (com ela). 

Falamos muito de amor. Mas, quando é que o amor se mostra em sua forma mais bela? É quando eu me alegro com a outra pessoa, exatamente como ela é. É quando nos alegramos com nossa criança, exatamente como ela é.

O poder que os pais percebem ter sobre os filhos _ e, sobretudo, as mães o sentem de uma forma particularmente profunda, na medida que vivem tanto tempo em simbiose com eles _ deve ser vivenciado como uma missão. Não como um poder pessoal, mas como um poder temporário, a serviço da criança.

Algum tempo atrás, num dos meus cursos, apareceu uma mulher carregando no colo uma criança de cinco meses. Estava sentada ao meu lado, e eu lhe disse: "Olhe através da criança, para algo que está longe, atrás dela". Ela olhou para longe, através da criança. De repente, a criança respirou profundamente e sorriu para mim. Ela ficou feliz. Assim, nessa relação que ultrapassa a criança, ambos ficam mais livres: os pais e a criança. Ambos podem ajustar-se melhor à sua própria destinação, alegrar-se com ela, e assim deixam livre o outro, na medida em que isso é necessário.


O que é esse algo distante, para onde a mulher dirigiu o olhar? É o destino de cada um, o seu próprio destino e o da criança. É, até mesmo, algo além do destino. É algo que permanece oculto de nós. Em sua presença permanecemos humildes; não obstante, sabemos que isso nos conduz e sustenta de um modo particular.


Extraído de "Liberdade que permanece" (Bert Hellinger)
Tradução de Newton Queiroz

sábado, 3 de outubro de 2015

As moedas que recebeu, têm valor para você?


Em uma noite qualquer, de uma época qualquer, alguém teve um sonho: sonhou que recebia algumas moedas das mãos de seus pais. Não sabemos se eram muitas ou poucas, se eram milhares, centenas, uma dezena ou apenas um par. Também desconhecemos o metal de que eram feitas, se ouro, prata, bronze ou talvez ferro. Enquanto sonhava que seus pais lhe entregavam as moedas, esse indivíduo teve uma sensação de calor em seu peito. Foi invadido por uma grande alegria. Estava contente, encheu-se de ternura e dormiu serenamente o restante da noite. Na manhã seguinte, quando despertou, a sensação de serenidade e satisfação persistia. Então, decidiu caminhar até a casa de seus pais. Quando ali chegou, olhou-lhes nos olhos e disse: "Na noite passada, vocês vieram até mim em sonho e depositaram em minhas mãos algumas moedas. Não me lembro se eram muitas ou poucas. Também não sei de que metal eram feitas, se eram de metal precioso ou não. Não importa, porque me sinto pleno e feliz. E venho lhes dizer: Obrigado, elas são suficientes. São as moedas de que necessito e as que mereço. Assim, eu as tomo com gosto, pois vêm de vocês. Com elas serei capaz de seguir meu próprio caminho." 

Ao ouvir isso, os pais que como todos os pais se engrandecem por meio do reconhecimento dos filhos, sentiram-se ainda maiores e generosos. Interiormente sentiram que podiam seguir dando a seu filho, porque a capacidade de receber amplia a grandeza e o desejo de dar. Então, disseram: "Você é um bom filho. Pode ficar com todas as moedas, pois pertencem a você.Pode gastá-las como quiser, e não precisa devolvê-las. São seu legado, único e pessoal, são para você." 


Então o filho também se sentiu grande e pleno. Descobriu- se completo e rico e pôde em paz deixar a casa dos pais. Na medida em que se afastava, andava com firmeza, com os pés firmes sobre o solo. Seu corpo também estava bem situado no solo, e diante de seus olhos um caminho claro e um horizonte promissor se abriam. Enquanto percorria o caminho da vida, foi encontrando pessoas diferentes, que o acompanhavam durante um trecho, às vezes mais longo, às vezes mais curto. Alguns o acompanharam pela vida toda. Eram sócios, amigos, companheiros, vizinhos, colaboradores e inclusive adversários. Em geral, o caminho se apresentava sereno, agradável, em sintonia com seu espírito e com sua natureza pessoal. E, ainda que não estivesse livre dos pesares naturais impostos pela vida, o sentia como o caminho de sua vida. De vez em quando, olhava para trás, para seus pais, e relembrava com gratidão as moedas recebidas. E, quando observava o transcurso de sua vida ou olhava para seus filhos ou se recordava de tudo que conquistou no âmbito pessoal, familiar, profissional, social ou espiritual, a imagem de seus pais surgia e ele se dava conta de que tudo aquilo fora possível graças ao que havia recebido deles, e que com seu êxito e com suas conquistas os honrava. Dizia a si mesmo: Não há fertilizante melhor que as próprias origens, e então seu peito voltava a se encher da mesma sensação abrangente que lhe havia preenchido na noite em que sonhou que recebia as moedas. 


Outra noite qualquer, de outro tempo qualquer, outra pessoa teve o mesmo sonho, já que, cedo ou melhor por eles, mas a pressão de ter uma vida própria lhe resultam exigente, imperiosa e avassaladora como a sexualidade. Assim, o indivíduo um dia compreendeu que tampouco o filho tinha as moedas de que necessitava, que merecia e lhe correspondiam. Sentindo-se mais vazio, órfão e desorientado que nunca, entrou em crise. Adoeceu. Estava na fase média da vida e se encontrava de uma forma que nenhum argumento já o sustentava, nenhuma razão o acalmava. Sentiu seu interior se quebrar e gritou: "SOCORRO!" Havia tanta urgência em seu tom de voz! Seu rosto estava tão desfigurado! Nada o acalmava, nada podia confortá-lo. E o que ele fez? Foi a um terapeuta. O terapeuta prontamente o recebeu. Olhou profunda e pausadamente para o indivíduo e disse: "Eu não tenho as moedas."


O terapeuta viu nos olhos de seu paciente que ele continuava buscando as moedas no lugar errado e que, no fundo, desejava se equivocar mais uma vez. Ele sabia que as pessoas desejam mudar, mas também que lhes custa dar o braço a torcer, não tanto por dignidade, mas por teimosia e costume. Mas o terapeuta, que sabia que não tinha as moedas em mãos, pensou: Amo e respeito melhor meus pacientes quando também posso fazer o mesmo com seus pais e com sua realidade tal como é. Ajudo quando sou amigo das moedas que lhes cabem, quaisquer que sejam. 


Na realidade, aquele terapeuta já vira muitas pessoas em situações similares e sabia que o paciente, e o menino que segue vivendo em seu interior, continua amando profundamente seus pais e lhes guarda lealdade, ainda que o ardor das feridas e outras causas lhe impeçam de aceitar suas moedas. É que, nas profundezas da alma, ainda que o filho reprove seus pais, também se identifica com eles. E, quando não pode acolhê-los e amá-los, tampouco consegue amar a si mesmo. Por isso, seu enfoque é o amor a tudo e a todos. Naquela primeira visita, o terapeuta acrescentou: "Eu não tenho as moedas, mas sei onde estão e podemos trabalhar juntos para que também você descubra onde estão e como pegá-las". Então, o terapeuta trabalhou com esse indivíduo e lhe mostrou que durante muitos anos ele tivera um problema de visão, um problema óptico, um problema de perspectiva. Tivera dificuldades para ver claramente. Só isso. O terapeuta o ajudou a ajustar o foco e a regular seu olhar, a perceber a realidade de outra maneira, a partir de uma perspectiva mais clara, mais centrada e mais aberta aos propósitos da vida. Uma maneira menos dependente dos desejos pessoais do pequeno eu que sempre tenta nos governar. 


Um dia, enquanto esperava pelo paciente, o terapeuta pensou que havia chegado o momento de dizer, por fim e claramente, onde estavam as moedas. E, nesse mesmo dia, como que por encanto, o paciente chegou com outra coloração de pele. As feições de seu rosto haviam se suavizado. E disse: "Sei onde estão as moedas. Continuam com meus pais." Primeiro soluçou, em seguida chorou abertamente. Depois veio o alívio, a paz e a sensação de calor no peito. Por fim! 


Então, dirigiu-se novamente, como anos atrás, à casa de seus pais. Quando ali chegou, olhou-lhes nos olhos e disse: "Durante todos estes anos tive um problema de visão, uma perspectiva ilusória. Não via claramente. Sinto muito. Agora posso ver e venho dizer-lhes que aquelas moedas que recebi de vocês em sonhos são as melhores moedas possíveis para mim. São suficientes e me correspondem. São as moedas que mereço e são adequadas para que eu possa seguir adiante. Venho lhes agradecer. As aceito com gosto, porque vêm de vocês, e com elas posso seguir trilhando meu próprio caminho." 


Então os pais, que como todos os pais se engrandecem pelo reconhecimento dos filhos, voltaram a florescer, e o amor e a generosidade fluíram novamente com facilidade. O filho voltava a ser filho plenamente porque era capaz de aceitá-los. Os pais, sorridentes, o olharam com ternura e responderam: "É um bom filho. Pode ficar com todas as moedas, pois lhe pertencem. Pode gastá-las como quiser e não é preciso devolvê-las. São seu legado, único e pessoal, para você. Pode ter uma vida plena.” Então, o filho também sentiu grande e pleno. Percebeu-se completo e rico e pôde por fim deixar em paz a casa dos pais. A medida que se afastava, sentiu os pés firmes pisando intensamente no solo, seu corpo também assentado na terra e os olhos voltados para um caminho claro e um horizonte promissor. Também sentiu algo estranho: perdera a força impetuosa que se alimentava do ressentimento, do vitimismo e do excesso de conformismo, mas agora tinha uma força simples e tranquila, uma força natural. 


Percorrendo o caminho que restava de sua vida, encontrou outras pessoas com as quais caminhou lado a lado, como acompanhante, durante um trecho, às vezes longo, às vezes curto, outras, para sempre. Sócios, amigos, casais, vizinhos, companheiros, colaboradores, inclusive adversários. Em geral, seu caminho foi sereno, prazeroso, em sintonia com seu espírito e com sua natureza pessoal. Tampouco esteve isento dos pesares naturais impostos pela vida, mas sentia que aquele sim era o caminho de sua vida. Um dia se aproximou da pessoa pela qual havia se apaixonado crendo que ela tinha as moedas e disse: "Durante muito tempo tive um problema de visão, e agora que enxergo claramente lhe digo: Sinto muito, esperei demais dessa relação. Foram demasiadas as minhas expectativas, e sei que isso foi uma carga muito pesada para você e agora a assumo. Tomo consciência e a libero. Assim, o amor que tivemos pode seguir fluindo. Agradeço. Agora tenho minhas próprias moedas." 


Em outro momento foi até seu filho e disse: "Você pode aceitar todas as minhas moedas, porque eu sou uma pessoa rica e completa. Agora já peguei as minhas de meus pais." Então o filho se tranquilizou, se fez pequeno em respeito a ele e se sentiu livre para seguir seu próprio caminho e aceitar suas próprias moedas. Ao fim de seu longo caminho, o indivíduo se deteve a repassar a vida vivida, o amado e o sofrido, o construído e o danificado. A tudo e a todos conseguiu dar um bom lugar em sua alma. Acolheu a todos com doçura e pensou: "Tudo tem sua hora na vida: a hora de chegar, a hora de permanecer e de partir. Uma metade da vida é para subir a montanha e gritar aos quatro ventos "Eu existo!" E a outra metade é para o declínio até o vazio, onde tudo é desprender-se, alegrar-se e celebrar." A vida tem seus assuntos e seus ritmos sem deixar de ser o sonho que sonhamos. 


Extraído do livro “Onde Estão as Moedas? As Chaves do Vínculo entre Pais e Filhos” (Joan Garriga Bacardí)

domingo, 30 de agosto de 2015

Wladimir, Amanda & reflexões com café: a finitude por Macbeth (podcast)

Macbeth (William Shakespeare, 1603-1607)

“Amanhã, e amanhã, e ainda outro amanhã arrastam-se nessa passada trivial do dia para a noite, da noite para o dia, até a última sílaba do registro dos tempos. E todos os nossos ontens não fizeram mais que iluminar para os tolos o caminho que leva ao pó da morte. Apaga-te, apaga-te, chama breve! A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre palhaço que por uma hora se espavona e se agita no palco, sem que depois seja ouvido; é uma história contada por idiotas, cheia de fúria e muito barulho, que nada significa.”